segunda-feira, 13 de maio de 2024

Festival da Eurovisão 1995

 


O 40.º Festival da Eurovisão teve lugar no dia 13 de Maio de 1995, precisamente o dia em que em Portugal assistiu ao casamento de Dom Duarte de Bragança e Isabel de Herédia no Mosteiro dos Jerónimos, o mais parecido que o nosso país teve com um casamento real desde a implantação da República.

Mary Kennedy



Por ter vencido pela terceira vez consecutiva, a Irlanda voltava uma vez mais a organizar o certame que, tal como no ano anterior, decorreu no Point Theatre em Dublin. A apresentação esteve a cargo de Mary Kennedy. Participaram 23 países, com Bélgica, Dinamarca, Eslovénia, Israel e Turquia a regressarem após ausência no ano anterior enquanto Eslováquia, Estónia, Finlândia, Lituânia, Países Baixos, Roménia e Suíça ficaram de fora este ano por terem ficado nos últimos sete lugares da classificação na edição de 1994. Segundo as fontes da altura, já se sabia que nesse ano o método de relegação iria ser descontinuado, o que sem dúvida foi um alívio para os países que ficaram na cauda da tabela (incluindo Portugal), por saberem que não ficariam automaticamente impedidos de participar no ano seguinte. 
Depois da introdução do ano seguinte e como tem sido regra desde então, os porta-vozes das votações de cada país puderam ser vistos em teleconferência, com Serenella Andrade a revelar os votos de Portugal. Tal como em 1990, 1991 e 1993, os comentários para a RTP estiveram cargo de Ana do Carmo.

Serenella Andrade anunciou os votos de Portugal

Na introdução foi possível ouvir alguns temas de conhecidas bandas irlandeses, como "Ode To My Family" dos Cranberries e "Pride (In The Name Of Love)" dos U2. Como se tratava da 40.ª edição foi também exibida uma breve retrospectiva da história do Festival até então (claro está sem mostrarem nenhuma participação portuguesa).

A principal razão porque não fiz mais cedo um artigo sobre o Festival de 1995 é porque nunca foi uma edição que eu apreciei muito, até será quiçá a que eu menos gosto na década de 90. Pessoalmente, tirando quatro ou cinco excepções, acho que foi um conjunto de canções abaixo da média. Também dava para notar que a televisão irlandesa já estava farta de organizar o Festival e a ficar sem ideias. O palco parecia muito vazio e pouco iluminado (sobretudo comparado com o do ano anterior no mesmo local). Os postcards, os gráficos e o quadro de pontuações, tirando alguns detalhes, também foram mais do mesmo.
O principal ponto positivo é que foi a primeira edição em que se via claramente que estávamos nos anos 90. Isto porque embora goste muito dos Festivais entre 1990 e 1994, tirando uma ou outra excepção, essas edições não reflectiam muito bem as sonoridades e as estéticas da cena musical da altura e ainda estavam muito decalcadas dos cânones eurovisivos dos anos 80. Mas em 1995, finalmente vários países começaram a trazer propostas mais de acordo com a época e que romperam com esses cânones, havendo dois exemplos disso deveras preponderantes.

Stone & Stone (Alemanha)

Em último ficou a Alemanha, na altura pouco habituada à cauda da tabela, com apenas um ponto de Malta. O duo Stone & Stone, composto pelo ex-casal Glen e Cheyenne Penniston, não convenceu com o tema "Verlibt in Dich" ("apaixonada por ti"). De origem americana, Glen Penniston viera para a Alemanha trabalhar como músico nos anos 70 e aí conheceu Cheyenne. Quando participaram no Festival, estavam separados há um ano mas ainda continuaram juntos na música por mais algum tempo. Diz-se que a Alemanha foi o país mais interessado em acabar com o sistema de relegação, mas ironicamente, no ano seguinte foi um dos países afastados na pré-eliminatória.

Csaba Szigeti (Hungria)

No ano anterior, a Hungria estreara-se com um excelente quarto lugar, mas aqui ficou em penúltimo com três pontos. Csaba Szigeti cantou "Uj név egy régi haz falán" ("um novo nome na parede da velha casa"). 

Tó Cruz (Portugal)

Portugal quedou-se pelo 21.º lugar com cinco pontos (4 da França e 1 da Grécia). Tó Cruz cantou "Baunilha e Chocolate", com letra de Rosa Lobato Faria, música do maestro António Vitorino D'Almeida e orquestração de Thilo Krassmann. Nesse ano, a RTP optou por método inovador para seleccionar o seu intérprete para a Eurovisão. No início de 1995, abriu um casting tipo "Ídolos" avant-la-lettre durante três dias onde foram seleccionados 36 (na verdade 37, pois havia um duo com duas irmãs gémeas) que participaram no programa "Selecção Nacional". Em cada sessão desse programa apresentado por Carlos Mendes, seis concorrentes cantavam cada um uma interpretação pessoal de uma canção portuguesa e o júri composto por João Maria Tudela, Miguel Ângelo e Nucha escolhia um vencedor para ir ao Festival da Canção, além de uma ronda de repescagem que apurou mais dois (incluindo Tó Cruz, que cantou "Porto Sentido"). Entre outros participantes contaram-se Pedro Miguéis e Vânia Maroti, que tinham passado pelo "Chuva de Estrelas", e uma ainda desconhecida Susana Félix. As 36 interpretações foram depois editadas num disco e mais adiante nesse ano a RTP teve o programa "Selecção de Esperanças" onde competiram alguns dos cantores que não tinham sido seleccionados para o programa principal.  A RTP atribuíu a cada concorrente finalista uma equipa de conhecidos compositores para lhe escrever uma canção para o Festival.
O Festival da Canção de 1995 decorreu no Teatro do Tivoli a, como não podia deixar de ser, a 7 de Março, dia de aniversário da RTP. Apesar de alguns elementos inovadores como pela primeira vez os porta-vozes dos 22 júris serem vistos em videoconferência e a introdução do televoto como 23.º júri e do hilariante desempenho de Herman José na condução da votação, a meu ver não foi uma edição muito memorável, até porque pese o talento dos cantores, o nível das canções era fraco e sem grande potencial para a Eurovisão, ainda que tenha ganho uma das melhorzitas. 
Nascido em Lisboa, Tó Cruz estava há vários anos activo na cena musical, desde actuações em bares, a solo ou em bandas como os Blá Blá Magazine, a coros para outros artistas e jingles publicitários. Após a sua participação no Festival da Eurovisão, Tó Cruz destacou-se como a voz cantada do Quasimodo na versão portuguesa do filme da Disney "O Corcunda de Notre-Dame" e pelo hit de 1999, "Camaleão", do álbum do mesmo nome que assinou como TC.  

Frédéric Etherlinck (Bélgica)

Em 20.º lugar com 8 pontos, ficou a Bélgica, um dos países ausentes no ano anterior. Frédéric Etherlinck cantou "La voix est libre". Actualmente Frédéric reside em Montreal no Canadá onde fez carreira como actor. (Fisicamente e de voz, ele fazia-me lembrar o cantor português Tó Leal.)

Davorin Popovic (Bósnia-Herzegovina)


Ainda com sob a sombra da guerra, a Bósnia-Herzegovina participou pela terceira vez, ficando em 19.º lugar com 14 pontos. O seu representante foi Davorin Popovic, um dos pioneiros da cena rock de Sarajevo, mantendo paralelamente uma carreira a solo com a do líder da banda Indexi. No Festival cantou, "Dvadeset prvi vijek" ("o Século XXI"). Infelizmente Popovic faleceu de cancro em 2001 com apenas 54 anos. 

Justyna (Polónia)


No ano anterior, Polónia estreou-se na Eurovisão em grande alcançado o segundo lugar. Mas nesse ano, o resultado foi mais modesto, o 18.º lugar com 15 pontos. Justyna Steczkowska levou um tema bem étnico-alternativo, "Sama" ("só") onde pôde exibir o seu alcance vocal de quatro oitavas. Então Justyna estava em início de carreira, que alcançaria enorme sucesso no seu país. Em 2024, especulou-se que Justyna poderia regressar ao Festival e foi revelado que uma canção sua ficou em segundo lugar entre as canções que a televisão polaca analisou para a sua decisão interna.   

Philipp Kirkorov (Rússia)


A Rússia foi outro país que se tinha estreado no ano anterior e nesta segunda participação foi representada por Philipp Kirkorov com "Kolybelnaya dlya vulkana" ("canção de embalar para um vulcão"). Nascido na Bulgária mas vivendo na Rússia desde a infância, Kirkorov tinha iniciado a sua carreira de cantor em 1989 abrangendo vários estilos. Em Dublin, não foi além do 17.º lugar com 17 pontos, mas Philipp Kirkorov regressaria ao Festival como compositor de várias canções (Bielorrússia 2007, Ucrânia 2008, Moldávia 2021) e quando a Eurovisão teve lugar em Lisboa em 2018, ele foi visto integrado na delegação da Moldávia. Alla Pugacheva, com quem Kirkorov foi casado entre 1994 e 2005, representaria a Rússia dois anos depois.

Arzu Ece (Turquia)

Em 16.º lugar ficou a Turquia com 21 pontos. Arzu Ece já tinha participado em 1989 como membro do grupo Pan e nesse ano apresentava-se a solo com a balada "Sev" ("ama"). Arzu Ece fez depois uma longa pausa na carreira musical regressando apenas em 2012 para um novo single, já depois ter vencido uma leucemia em 2009. 

Bo Halldórsson (Islândia)


Um dos mais populares cantores da Islândia, Björgvin "Bo" Halldórsson tinha tentado representado várias vezes o seu país no Festival até que finalmente em 1995 foi expressamente escolhido para tal, levando a canção "Núna" ("agora"), ficando no 15.º lugar com 31 pontos. A sua filha Svala também representou a Islândia na Eurovisão em 2017.

Eddie Friel (Irlanda)

Após três vitórias consecutivas e todas as dificuldades para organizar as subsequentes edições, a Irlanda quis assegurar que não ganhava de novo e de facto, o tema que escolheram desta vez, "Dreamin'", interpretado por Eddie Friel, não era de todo para discutir a vitória. Aliás, a canção teve acusações de plágio devido às semelhanças com o tema "Moonlight" de Julie Felix (e ouvindo o dito, de facto as semelhanças são bastantes). Como tal, ficou em 14.º lugar com 44 pontos. Mas ainda havia mais uma vitória irlandesa no horizonte.

Stella Jones (Áustria)

A Áustria foi um dos países que trouxeram um toque de modernidade. A sua representante, Stella Jones, nasceu em Berlim filha de pai americano e mãe alemã, e residia em Viena desde o seis anos. Em 1992, cantou no tema "Birthday Song" do grupo Power Pack que foi n.º 1 no top austríaco. Em Dublin, Stella levou o tema r&b "Die Welt dreht sich verkhert" ("o mundo giro para o lado errado"), ficando em 13..º lugar com 67 pontos. Outra figura de destaque na actuação foi a saxofonista. Desde então Stella Jones tem colaborado com vários artistas internacionais como Gloria Gaynor, Chaka Khan, Taylor Dayne e Nina Hagen.  

Elina Konstantopolou (Grécia)

Coube à Grécia terminar o desfile das canções, na voz de Elina Konstantopolou com a canção "Pia prosefhi" ("Qual oração?"), obtendo 68 pontos e o 12.º lugar. Em 2005, Elina esteve presente no Festival desse ano fazendo coro para a canção de Chipre. 

Keith Spiteri (Malta)


Malta e Reino Unido compartilharam o 10.º lugar com 76 pontos. Se a canção maltesa, "Keep in me mind", defendida por Keith Spiteri, era uma balada convencional, a do Reino Unido foi uma canção que rompeu os cânones da eurovisiva, trazendo sonoridades r&b e hip hop.


Love City Groove (Reino Unido)


A canção tinha o mesmo nome que o grupo, Love City Groove, composto por Yinka Charles ou MC Reason, Paul Hardy, Jay Williams, Stephen Rudden e Derek Jinghoree. O resultado pode ter sido mediano para o currículo de então do Reino Unido no Festival, mas o tema teve algum sucesso internacional e até me lembro de ouvi-lo na rádio no Verão desse ano. 

Alexandros Panayi (Chipre)


Alexandros Panayi tinha sido cantor de coro nas canções cipriotas de 1989 e 1991 e nesse ano pôde finalmente representar Chipre como vocalista principal. Panayi iniciou a sua actuação do tema "Sti fotia" ("no fogo") passando por um manto erguido por dois dos músicos que o acompanharam. Com recortes étnicos, a canção cipriota obteve o nono lugar com 79 pontos, e lembro-me que houve um concorrente do "Chuva de Estrelas" que cantou esta canção. Alexandros Panayi voltaria mais vezes à Eurovisão, representando novamente Chipre em 2000 como parte do duo Voice e fazendo coro em outras canções, em especial a da Grécia de 2005 que venceu nesse ano.

Liora (Israel)

Dezasseis anos depois de ter vencido com "Hallelujah", Israel tentava a sua sorte com outra canção com um título religioso, "Amen", na voz de Liora. A canção israelita chegou a ser apontada como favorita mas ficou em oitavo lugar com 81 pontos.

Darja Svajger (Eslovénia)


Darja Svajger foi a representante da Eslovénia que trouxe a powerballad "Prisluhni mi" ("escuta-me") que obteve 84 pontos e o 7.º lugar, até a data o melhor resultado deste país, igualado com 2001. Darja Svajger voltou a representar a Eslovénia em 1999.

Magazin & Lidija (Croácia)


A terceira participação da Croácia como país independente esteve a cargo do grupo Magazin com a participação especial da cantora lírica Lidija Horvat-Dunjko. Os Magazin tinham iniciado a sua carreira em 1979 que se estende até hoje com vários membros na sua formação. Na altura a sua vocalista era Danijela Martinovic que conjugou a sua voz à de Lidija para cantar "Nostalgija", obtendo o sexto lugar com 91 pontos. Em 1996, Danijela Martinovic deixou a banda para uma carreira a solo e representou a Croácia no Festival de 1998.

Aud Wilken (Dinamarca)


A Dinamarca ficou em quinto lugar com 92 pontos, com mais uma canção de recortes étnicos. Aud Wilken cantou "Fra Mols til Skagen" ("de Mols a Skagen", duas cidades dinamarquesas). Wilken tinha começado a sua carreira nos anos 80 em bandas rock mas por esta altura dedicava-se mais ao pop e ao jazz. Embora continue no activo, Aud Wilken tem apenas um álbum a solo de 1999.

Nathalie Santamaria (France)


A França ficou em quarto lugar com 94 pontos, com um dos temas mais pop a concurso, "Il me donne rendez-vous" ("ele marca encontro comigo") na voz de Nathalie Santamaria, natural de Ajaccio na ilha da Córsega. O seu único álbum data de 1997. 

Jan Johansen (Suécia)

Em terceiro lugar, ficou a Suécia com a balada "Se pa mig" ("olha para mim"), defendida por Jan Johansen. Filho de Egil Johansen, um importante nome da cena jazz sueca, este foi um dos primeiros passos na carreira de Jan Johansen que dura até hoje. Apesar de não ter mais regressado à Eurovisão, Jan Johansen participou também na célebre final nacional sueca, o MelodiFestivalen, em 2001, 2003 e 2020. 

Anabel Conde (Espanha)

Espanha alcançou um excelente segundo lugar. Anabel Conde defendeu "Vuelve conmigo" obtendo 119 pontos. Esse sucesso fez com que a sua terra natal, Fuengirola (província de Málaga), nomeasse uma praça em sua honra. Anabel Conde regressaria ao Festival em 2005 fazendo coro na canção de Andorra e também participou nas pré-selecções espanholas de 2000 e 2010.  

Secret Garden (Noruega)


Mas a vitória desde muito cedo que se anunciou para a Noruega com 148 pontos e seis países a atribuírem os 12 pontos (incluindo Portugal). E tal como a canção do Reino Unido, a canção da Noruega, "Nocturne" pelo grupo Secret Garden, rompia com as convenções eurovisivas de então. Isto porque se tratava de um tema quase instrumental com apenas com apenas uns escassos versos vocais por parte de Gunnhild Tvinnerim (a letra tinha ao todo apenas 24 palavras) no início e no fim. Nos entretantos, a interpretação principal esteve a cargo da violinista Fionnuala Sherry, secundada pelos outros músicos. (Lembro-me de ver o vídeo da actuação no programa de antevisão das canções concorrentes que dava na RTP e pensar "Então, mas ela não volta a cantar?")
E ironicamente, apesar desta ser a única vez entre 1992 e 1996 que a Irlanda não ganhou, não só as sonoridades faziam lembrar a música celta irlandesa como a própria Sherry era irlandesa. O outro membro principal dos Secret Garden era Rolf Lovland que fora o autor e compositor da outra canção com que a Noruega vencera dez anos antes, "La det swinge" das Bobbysocks. Os Secret Garden continuam no activo, com dez álbuns editados, e além de "Nocturne, a sua canção mais conhecida é "You Raise Me Up", originalmente interpretada por Bryan Kennedy e que já conheceu inúmeras versões de nomes como Josh Groban, Westlife e Il Divo. 

Festival da Eurovisão 1995 em HQ (sem comentários):


A transmissão da RTP: 







quarta-feira, 24 de abril de 2024

A Hora Da Liberdade (1999)

Após cerca de duas décadas com várias crises socioeconómicas, ao que nos últimos anos se acrescentou uma pandemia global e os efeitos colaterais do regresso da guerra na Europa, Portugal chega aos 50 anos do 25 de Abril com um desencantamento generalizado, que até tem alavancado alguns saudosismos dos tempos anteriores ao da Revolução.

Porém em 1999, quando se assinalou o primeiro quarto de século após a Revolução dos Cravos, viviam-se tempos indubitavelmente mais optimistas. A economia prosperava com um crescimento acima da média da União Europeia, a democracia estava consolidada e recomendava-se, havia uma estabilidade política como nunca antes nem depois se verificou, Lisboa tinha acolhido a Expo 98 e José Saramago tinha sido galardoado com o Prémio Nobel da Literatura. Além disso, dois acontecimentos mobilizariam a população precisamente nesse ano de 1999: as massivas manifestações de solidariedade para com Timor Leste, que fora alvo de violentos ataques da Indonésia após um referendo para a sua independência, e a candidatura bem-sucedida à organização do Euro 2004. Portugal preparava-se para entrar no ano 2000 com uma autoconfiança e um optimismo nunca vistos. 




Eram também os tempos em que a SIC, apesar de ter menos de sete anos de emissões, dominava o panorama televisivo sem discussão e o jubileu de prata do 25 de Abril foi a ocasião ideal para levar a cabo aquela que era uma das suas mais ambiciosas produções até então. 



"A Hora Da Liberdade" foi uma recriação ficcionada dos principais acontecimentos da Revolução. Originalmente, a sua emissão das mais de 160 minutos de filme foi feita em treze blocos que passaram na SIC entre 24 e 26 de Abril de 1999, sensivelmente à mesma hora em que teriam acontecido vinte e cinco anos antes. A produção foi idealizada por Emídio Rangel, então director da SIC, Rodrigo Sousa e Castro, um dos Capitães de Abril e a realizadora Joana Pontes. A narração dos blocos esteve a cargo de Alberto Ramos



A narrativa desta ficção documental começa recuando até ao dia 24 de Abril de 1974, nos preparativos dos quartéis para a revolução. Às 22 horas e 43 minutos, o radialista João Paulo Diniz, dos Emissores Associados de Lisboa, anuncia a canção "E Depois Do Adeus" interpretada por Paulo de Carvalho, que semanas antes tinha representado Portugal no Festival da Eurovisão, que serviu de senha para o arranque da operação. 
Veem-se então alguns dos principais militares que estiveram ao leme da Revolução: o Major Otelo Saraiva de Carvalho (António Capelo), o Comandante Vítor Crespo (Alexandre de Sousa), o Major Sanches Osório (Jorge Gonçalves), o Tenente-Coronel Lopes Pires (Francisco Pestana), o Tenente-Coronel Garcia dos Santos (Marcantónio Del Carlo), o Major Hugo dos Santos (Paulo Matos) e o Capitão Luís Macedo (João de Carvalho). 

Às 0:20 do dia 25, o locutor Leite de Vasconcelos da Rádio Renascença anuncia a canção "Grândola Vila Morena" de Zeca Afonso, a senha para o início da saída das tropas. (Para a produção, foi utilizada a reprodução inicial desse momento na fita magnética original.) Um dos primeiros batalhões a sair é o da Escola Prática da Cavalaria de Santarém liderada pelo Capitão Salgueiro Maia (Manuel Wiborg). 


Nessa madrugada, as tropas revoltosas tomam sem resistência o Quartel-General de Lisboa e depois a Rádio Clube Português onde Joaquim Furtado (Eurico Lopes) anuncia o primeiro comunicado do Movimento das Forças Armadas. Ao nascer do dia, as tropas comandadas por Salgueiro Maia ocupam o terreiro do paço enquanto as tropas da Escola Prática da Artilharia ocupam posições junto ao Cristo-Rei.
As forças do Governo, lideradas pelo General Andrade e Silva, Ministro do Exército (Rui Mendes) e com o aval do Ministro da Defesa, Dr. Silva Cunha (Luís Mascarenhas) reagem à revolta. Um navio da Marinha surge no Rio Tejo e algumas forças da GNR enfrentam as tropas revoltosas mas o momento de maior tensão surge quando uma força blindada da Cavalaria 7, liderada pelo Brigadeiro Junqueira dos Reis (Artur Ramos) chega à Praça do Comércio. Mas para estupefação deste, os militares dessa força recusam a abrir fogo sobre os revoltosos. 

Ao princípio da tarde, as tropas comandadas por Salgueiro Maia conseguem chegar ao Carmo e cercar o Quartel onde se encontra Marcello Caetano (José Manuel Mendes). O Capitão encara o Presidente do Conselho de Ministros, que se rende incondicionalmente após a chegada do General António de Spínola (Júlio Cardoso) ao quartel.

Nessa noite, o General Spíniola chega ao posto de comando dos militares revoltosos onde serão feitas as negociações que levarão à formação da Junta de Salvação Nacional que governará o país até às primeiras eleições livres.

Após a exibição original e a sua exibição compactada na noite do dia 26 de Abril, "A Hora Da Liberdade" tem sido reposta pela SIC ou na SIC Notícias por alturas do 25 de Abril. Apesar de me lembrar de ver alguns blocos da emissão original de 1999, foi numa reposição em 2017 na SIC Notícias que vi mais atentamente. 

Além dos nomes já citados, entre os outros actores que participaram neste docudrama estiveram Almeno Gonçalves (Tenente-Coronel Almeida Bruno), André Gago (Brito e Cunha), António Cordeiro (Capitão Andrade e Sousa), Cristina Carvalhal (Clarisse Guerra, locutora do RCP), Diogo Morgado (Aspirante Teixeira), Gonçalo Waddington (Tentente Almas Imperial), Guilherme Filipe (Major Pato Anselmo), Heitor Lourenço (Alferes Sottomayor), Henrique Feist (Alferes David e Silva), Ivo Canelas (Tentente Santos e Silva), José Boavida (Capitão Bicho Beatriz), José Jorge Duarte (Pedro Feytor Pinto), Luís Esparteiro (Major Costa Neves), Marco Delgado (Capitão Luís Pimentel), Marques D'Arede (Coronel Álvaro Fontoura) Pedro Lima (Alferes Maia Loureiro), Rui Luís Brás (Tenente Ponces de Carvalho) e Vítor Norte (Major do Comando Jaime Neves).

Além das partes recriadas, foram utilizadas várias imagens de arquivos da RTP, nomeadamente aquelas da multidão que se junto no Largo do Carmo e a leitura do comunicado da Junta de Salvação Nacional na RTP, após Fialho Gouveia apresentar os seus componentes. 

Sem dúvida que se tratava de uma produção monumental e dispendiosa (notava-se que estávamos nos tempos em que a SIC nadava em dinheiro) mas mais de duas décadas depois, ainda não parece datada. As Forças Armadas contribuíram para o projecto cedendo vários meios, como um vaso de guerra e vários militares para a figuração, além de arquivos das instruções da campanha. Os militares da revolução que ainda estavam vivos assistiram das gravações e Otelo Saraiva de Carvalho fez um cameo na cena final, quando o actor António Capelo desliga um rádio após um close-up do interruptor, a câmara mostra o major em 1999. 


Todo o elenco esteve bastante bem mas para mim os destaques vão para Manuel Wiborg e José Manuel Mendes, que pelo seu desempenho e parecenças físicas, quase pareciam reencarnações de Salgueiro Maia e Marcello Caetano. E claro que para mim a cena mais marcante foi aquela em que dois ficam cara a cara, o Professor já amargando na derrota mas fazendo tudo para não perder a pose e o Capitão encarando-o com bravura (mas sem desrespeito), como que carregando consigo a vontade do povo.



O site "Brinca, Brincando" (para quem vai um trilionésimo agradecimento pela a informação fornecida) refere que houve uma polémica entre a SIC e a actriz Maria de Medeiros que no ano seguinte fez a sua estreia como realizadora com o filme "Capitães de Abril", e que numa entrevista à TV Guia, alegou que quando contactou a SIC para um parceiro televisivo para o filme, ficaram com o seu guião e que depois apareceram com "alguns dos aspectos completamente copiados" embora considerasse os produtos eram "bastante diferentes". A SIC repudiou as afirmações, declarando em comunicado que o trabalho em relação a "A Hora Da Liberdade" estava a ser preparado antes da actriz ter apresentado seu projecto.  




"A Hora da Liberdade" teve posteriormente edição em VHS e em 2012, foi editado um livro sobre o projecto que incluía o DVD do programa. Está também disponível na versão gratuita da Opto SIC e no YouTube. 


quarta-feira, 3 de abril de 2024

Festival da Eurovisão 1976

Recuemos aos anos 70 para relembrar mais uma edição do Festival da Eurovisão.




O 21.º Festival da Eurovisão teve lugar a 3 de Abril de 1976 no Centro de Congressos de Haia nos Países Baixos. Em virtude da sua vitória no ano anterior, era a terceira vez que os Países Baixos sediaram o certame após 1958 em Hilversum e 1970 em Amesterdão. Participaram 18 países destacando-se os regressos da Áustria, ausente de 1972, e da Grécia que após a estreia em 1974 dispensou a presença em 1975 (por motivos que mais adiante se explicarão), ao passo que a Suécia, o país organizador do Festival anterior, ficou de fora bem como Malta e Turquia. Corry Brokken, vencedora da segunda edição do Festival em 1957, foi a apresentadora, tratando-se da primeira vez que um ex-intérprete concorrente apresentava o evento.

Corry Brokken, vencedora em 1957, foi a apresentadora



Devo dizer que não é musicalmente das minhas edições preferidas da década mas a organização introduziu alguns toques interessantes como o cenário que mudava a cada actuação. Foi também a primeira vez que houve uma ligação à green room onde estavam presentes os artistas dos diferentes países, com um apresentador, Hans van Willigenburg, a falar alguns deles. E como estávamos numa nação sobejamente conhecida pela sua indústria de floricultura, no final de cada actuação, era entregue a todos os cantores um bouquet de flores.  

Os 18 cenários para cada uma das canções



Este foi o segundo ano em que o método de pontuação conhecido como "douze points" foi estabelecido, mas conforme se procedeu até 1979 e ao contrário da ordem crescente que depois viria a ser norma, os votos de cada país foram revelados conforme a ordem de actuação, o que dava azo a alguns lapsos na hora das votações, como aquele que decorreu durante os votos do júri de França, que mais adiante se explicará. 

Como é hábito iremos analisar cada uma das canções concorrentes por ordem inversa à classificação final:

Anne-Karine Strom (Noruega)


Pela terceira vez, Anne-Karine Strom (1951-) representou as cores da Noruega, mas tal como na sua participação em 1974, ficou em último lugar. Um resultado a meu ver algo injusto pois a sua canção "Mata Hari" era um tema disco bem divertido e Strom deu nas vistas com o seu macacão de lantejoulas douradas. Os sete pontos para a canção norueguesa vieram de Portugal e dos Países Baixos (o país de origem da verdadeira Mata-Hari). 

Ambasadori (Jugoslávia)


No final do Festival, o quadro das pontuações dava a Jugoslávia em último lugar com seis pontos, mas na verdade o porta-voz do júri francês esqueceu de anunciar os seus 4 pontos que eram para esse país, um lapso que na altura ninguém reparou. Só mais tarde tal lapso foi corrigido, e como tal a Jugoslávia ficou em 17.º lugar com 10 pontos. O país foi representado pelo grupo Ambasadori com a canção "Ne mogu skriti svoju bol" ("não posso esconder a minha dor"). O grupo originário de Sarajevo fora formado em 1968 com uma enorme rotatividade na formação, que incluiu o representante jugoslavo de 1973 Zdravko Colic. Na altura a vocalista principal era Ismeta Dervoz, sendo que ainda nesse ano foi substituída por outra cantora que ficaria até ao final da banda em 1980.
Esta foi a última participação da Jugoslávia na Eurovisão até 1981, já depois da morte de Josip Broz Tito.    

Braulio (Espanha)


A Espanha ficou em 16.º lugar com 11 pontos. Foi a única vez entre 1972 e 1999 que a Espanha organizou uma final nacional televisionada onde catorze intérpretes competiram com duas canções cada, com a vitória a ir para "Sobral Las Palabras" na voz de Bráulio. Natural das Ilhas Canárias, Braulio Garcia (1945-) iniciara a sua carreira em 1973, e além da Eurovisão, participou em outros festivais como o de Viña Del Mar no Chile (onde venceu em 1979). Desde os anos 80 que Braulio vive nos Estados Unidos, dedicando-se ao mercado latino-americano.

Les Humphries Singers (Alemanha)


Inicialmente a Alemanha esteve para ser representada por Tony Marshall com a canção "Der Star". Mas essa canção foi entretanto desqualificada por ter havido uma actuação pública prévia dela, pelo que foi a segunda classificada, "Sing Sang Song" pelos Les Humphries Singers, quem acabou por representar o país em Haia. Tratava-se de um grupo vocal multinacional fundado em 1969 pelo britânico Les Humphries (1940-2007) que teve vários membros durante a sua actividade até 1980, como por exemplo Liz Mitchell dos Boney M. Os membros que actuaram em Haia foram Jurgen Drews, John Lawton, Judy Archer, Peggy Evers, Jimmy Bilsbury e David O'Brien, com Les Humphries na função de orquestrador. A Alemanha ficaria em 15.º lugar com 12 pontos.

Jürgen Marcus (Luxemburgo)


Da Alemanha vinha também o representante do Luxemburgo, Jürgen Marcus (1948-2018). Numa das raras vezes que o grão-ducado organizou uma final nacional televisionada, que Jürgen venceu com "Chansons pour ceux qui s'aiment" ("canções para aqueles que se amam"). Em Haia, ficou em 14.º lugar com 17 pontos. Jürgen Marcus fora um cantor muito popular na Alemanha nos anos 70, e um dos seus hits "Ein Festival der Liebe" teve uma versão portuguesa do cantor madeirense Gabriel Cardoso. 

Mariza Koch (Grécia)


Dois anos antes, a Grécia tinha-se estreado no Festival mas foi também nesse ano que a ilha de Chipre foi efectivamente dividida em duas partes, no culminar de décadas de conflitos entre cipriotas gregos e turcos, com a invasão da Turquia da parte norte da ilha (que em 1983 declararia unilateralmente a independência). Com as relações cortadas entre Grécia e Turquia, a estreia deste país no Festival em 1975 terá sido a principal causa da ausência da Grécia e no ano seguinte, foi a Grécia a participar e a Turquia a ficar de fora. E a canção grega, "Panaghia mou, panaghia mou" ("minha santa Mãe, minha santa Mãe"), não escondia que era sobre os efeitos devastadores do conflito (é a única canção da Eurovisão a ter na letra a palavra "napalm"), com a voz de Mariza Koch num sentido pedido à Virgem Maria por piedade. Nascida em Atenas e filha de pai alemão (daí o apelido germânico), Mariza Koch (1944-) lançara o seu primeiro álbum em 1971, "Arabas", cuja mistura de música tradicional grega com arranjos electrónicos, alcançou um grande sucesso no seu país. Desde então, Koch continuou bastante activa, com o seu último disco a sair em 2009, mas esta participação no Festival continua a ser o seu mais notório momento internacional. A Grécia ficou em 13.º lugar com 20 pontos. 

Carlos do Carmo (Portugal)


Nos anos que se seguiram ao 25 de Abril, Portugal decidiu tentar outros métodos para seleccionar a sua canção para a Eurovisão. Em 1976, o método escolhido foi escolher directamente um intérprete para cantar todas as canções concorrentes: a escolha acabou por recair sobre Carlos do Carmo, que já então era uma das grandes vozes do fado. Oito canções foram apresentadas pela RTP com a vencedora a ser escolhido pelo público por via postal. No dia 7 de Março, foram revelados os resultados num especial chamado "Uma Canção Para A Europa" apresentado por Eládio Clímaco e Ana Zanatti com comentários de António Vitorino D'Almeida, onde Carlos do Carmo interpretou novamente as oito canções com a participação do autor e/ou compositor da cada canção (entre essas presenças contaram-se Paulo de Carvalho, Fernando Tordo, José Luís Tinoco, Ary dos Santos, Tozé Brito e Manuel Alegre). A canção escolhida foi "Uma Flor de Verde Pinho" com letra de Manuel Alegre e música de José Niza, mas duas outras canções concorrentes viriam a ser mais popularizadas: "No Teu Poema" e "Estrela Da Tarde". Em Haia, a canção portuguesa ficou em 12.º lugar com 24 pontos (incluindo 12 pontos da França - só em 1993 é que se ouviria dizer novamente "Portugal, 12 points"). No ano seguinte, Carlos do Carmo editaria o disco que é considerado o seu magnum opus, "Um Homem Na Cidade", e a sua carreira continuou a granjear grandes glórias como o Globo de Ouro de Mérito e Excelência de 1998. e em 2014, tornou-se o primeiro artista português a receber o prémio carreira dos Grammys Latinos. Carlos do Carmo faleceu no primeiro dia de 2021 aos 81 anos. 

Fredi & The Friends (Finlândia)


A Finlândia ficou em 11.º lugar com 44 pontos. Matti Siitonen (1942-2021), mais conhecido no seu país pelo seu nome artístico Fredi, já tinha representado a Finlândia em 1967, mas nove anos depois regressou ao Festival com um novo visual e acompanhado por um conjunto de cinco vocalistas, os Ystävät (ou como foram creditados no Festival, The Friends), cantando em inglês "Pump Pump", um tema muito bem disposto. Além da música, Fredi também fez carreira como actor e apresentador. 

Red Hurley (Irlanda)


A Irlanda ficou em 10.º lugar com 54 pontos com Vincent Hurley (1949-) a defender a balada "When". Devido à sua frondosa melena ruiva, o cantor também era conhecido como Red Hurley. Depois de ter passado por várias bandas, Hurley tinha iniciado a sua carreira a solo em 1974 e vinha de dois singles que chegaram ao n.º1 no top irlandês. Red Hurley continua activo dividindo a carreira entre a Irlanda e os Estados Unidos. 

Sandra Reemer (Países Baixos)


A representar o país anfitrião, os Países Baixos, esteve Barbara Alexandra Reemer (1950-2017), mais conhecida como Sandra Reemer. Em 1972, a cantora natural da Indonésia já representara o país das tulipas em dueto com Dries Holten como Sandra & Andres, ficando em quarto lugar. Desta vez, Reemer ficou em nono lugar com 56 pontos com "The Party Is Over Now" e em 1979, regressou para uma terceira participação, agora sob o nome de Xandra. 

Pierre Rapsat (Bélgica)


A Bélgica ficou em oitavo lugar com 56 pontos. Pierre Rapsat (1948-2002) defendeu o tema "Judy et Cie.", um tema melancólico em que a titular Judy se debate com problemas de imagem, chegando até a rezar a Santa Marilyn Monroe. Apesar da letra algo inaudita, a sonoridade da canção faz-me lembrar a música dos filmes da Emmanuelle. Falecido prematuramente em 2002 com 53 anos, em 2005, Pierre Rapsat foi votado como o 51.º maior belga de todos os tempos!

Romina Power & Al Bano (Itália)


A célebre dupla Al Bano & Romina Power representou a Itália. Albano Carrisi (1943-) e Romina Power (1951-), filha do actor de Hollywood Tyrone Power, conhecerem-se em 1967 durante a rodagem de um filme e viriam a casar três anos mais tarde. Em 1975, começaram também a actuar como dupla musical e no ano seguinte, apresentavam-se então em Haia. Aproveitando as raízes americanas dela e as regras que na altura permitiam liberdade de idiomas, ela cantou em inglês e ele em italiano "We'll Live It All Again". Apesar de um engano de Al Bano ao início da actuação, obtiveram 69 pontos e ficaram em sétimo lugar. Albano e Romina continuaram a somar mais sucessos nos anos seguintes, tendo vencido o Festival de San Remo de 1985 com "Ci Sará" e regressando à Eurovisão no ano seguinte com "Magic Oh Magic". Em 1994, a sua filha mais velha desapareceu em Nova Orleães (foi declarada como morta em 2014), um enorme desgosto que ditaria o fim da relação e da parceria musical de ambos em 1999. Porém os dois têm voltado a actuar ocasionalmente desde 2013. Al Bano estaria presente pela terceira vez na Eurovisão em 2000, no coro da canção da Suíça. 

Chocolate Menta Mastik (Israel)



Israel foi representado pelo trio feminino Chocolate Menta Mastik composto por Yardena Arazi (a morena), Leah Lupatin (a loura) e Ruth Holzman (a ruiva). Quais Anjos de Charlie, as duas cantaram e dançaram em harmonia para defender o tema "Emor shalom" ("dizer olá"), ficando em sexto lugar com 80 pontos. Após o fim do grupo em 1978, Yardena Arazi apresentou o Festival da Eurovisão de 1979 em Jerusalém e voltaria a representar o país em 1988. Leah Lupatin substituiu Galit Atari como a vocalista feminina do grupo Milk & Honey, vencedores do Festival da Eurovisão de 1979 com "Hallelujah", tendo inclusivamente sido ela a marcar presença durante a gala especial dos 25 anos do Festival da Eurovisão em 1981. 

Waterloo & Robinson (Áustria)

Ausente desde 1972, a Áustria regressava ao Festival, representada pelo duo Waterloo & Robinson. Johann "Waterloo" Kreuzmayer (1945-) e Josef "Robinson" Krassnitzer (1947-) actuavam juntos desde 1971 e a Haia levaram a canção "My Little World". Com 80 pontos, repetiram o quinto lugar da última participação austríaca em 1972. Waterloo & Robinson continuam no activo, quer juntos, quer em projectos a solo e em 2004, quase que regressavam à Eurovisão, ficando em segundo lugar na final nacional austríaca desse ano. 


Sue Schell dos Peter, Sue & Marc (Suíça)
com o palhaço do realejo


Pela segunda de que seriam quatro vezes, o trio Peter, Sue & Marc representou a Suíça. Depois de em 1971 terem cantado em francês, agora levaram um tema em inglês, "Djambo Djambo", sobre um palhaço no ocaso da carreira. A acompanhá-los estava um palhaço a tocar realejo cujo aspecto não fazia muito para acalmar aqueles que sofressem de coulrofobia. Pessoalmente, acho a mais fraca da tetralogia de canções dos Peter, Sue & Marc, mas foi das que obteve melhor resultado, o 4.º lugar com 91 pontos. O trio voltaria a participar no Festival em 1979 (em alemão) e em 1981 (em italiano). 

Mary Christy (Mónaco)


O Luxemburgo era conhecido por importar cantores de outros países para representar o grão-ducado no Festival e, como já se viu, em 1976 não foi excepção. No entanto, nesse ano também deu-se o caso inverso, pois houve uma cantora luxemburguesa a representar outro país, mais precisamente o Mónaco. Maria Christina Ruggeri (1952-) nascera no sul do grão-ducado mas tinha-se mudado para Paris no início dos anos 70 quando passou a actuar sob o nome de Mary Christy. Pelo principado do Mónaco cantou "Toi, la musique et moi" ficando em terceiro lugar com 93 pontos, recebendo (obviamente) doze pontos do Luxemburgo.       

Catherine Ferry (França)



Em segundo lugar ficou a França, com Catherine Ferry (1953-) e "Un, deux, trois". Este foi o primeiro grande momento de notoriedade na carreira de Ferry mas ela esteve bem à altura, somando 147 pontos. No coro estava Daniel Balavoine, que viria tornar-se nos anos seguintes um dos mais aclamados cantores e compositores franceses (destacando-se o hit de 1985 "L'Aziza") até que faleceu tragicamente aos 33 anos num acidente de helicóptero durante o Rali Paris-Dacar de 1986. Catherine Ferry continuou activa na sua carreira, destacando-se a sua participação na versão francesa do musical "Abbacadabra" no papel de Alice (que na versão portuguesa foi desempenhado por Suzy Paula). Em 1990, Ferry abandonou a carreira para se dedicar à vida familiar, tendo voltado a actuar ocasionalmente desde 2008. Em 2010, "Un, deux, trois" foi incluído no filme francês "Potiche" com Catherine Deneuve e Gérard Dépardieu. 

Brotherhood Of Man (Reino Unido)


Tal como no ano anterior, a canção vencedora foi a primeira a actuar (algo que só voltou a acontecer em 1984). E esta terceira vitória do Reino Unido foi absolutamente arrasadora obtendo 164 pontos em 204 possíveis, com sete países (incluindo Portugal) a atribuir 12 pontos e desde então que "Save Your Kisses For Me" dos Brotherhood Of Man se tornou um dos grandes clássicos eurovisivos. O grupo tinha sido formado em 1969 pelo produtor Tony Hiller e na sua fase inicial teve uma formação rotativa de vários vocalistas. Em 1970, os Brotherhood Of Men obtiveram um hit internacional com "United We Stand" em que uma das vozes era de Tony Burrows que nesse ano também fez sucesso como vocalista dos Edison Lighthouse, a banda one-hit wonder de "Love Grows (Where Rosemary Goes)". Em 1973, os Brotherhood Of Men passaram a ter quatro membros fixos: Martin Lee, Lee Sheriden, Nicky Stevens e Sandra Stevens (sem parentesco). Com esta formação, tiveram alguns hits na Bélgica, mas foi só mesmo com "Save Your Kisses For Me" que os Brotherhood Of Men voltaram à ribalta no seu país natal. "Save Your Kisses For Me" continua aliás a ser a canção do Festival da Eurovisão comercialmente mais bem-sucedida no Reino Unido, onde vendeu um milhão de cópias e foi o single mais vendido de 1976. Os Brotherhood Of Man obtiveram mais dois singles no primeiro lugar no top britânico: "Angelo" (um decalque do "Fernando" dos ABBA) em 1977 e "Figaro" em 1978. Mas apesar do sucesso comercial ter desvanecido no início dos anos 80, os Brotherhood Of Man continuaram no activo com a mesma formação até 2022. Nicky Stevens continua a ser até ao momento a única cantora natural do País de Gales a vencer a Eurovisão. 






Festival da Eurovisão 1976: 





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